um blog de rrose e luís

23.7.08

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A rua estava pintada de negro e pelo pavimento inclinado escorriam os restos de uma chuvada intensa. Ao fundo, com o ombro encostado ao único foco de luz em toda a extensão da rua negra estava uma puta; quando reparou nela Gabriel aproximou-se.
Começava a distinguir-lhe as linhas. Magra, feições vincadas, baton para além dos limites dos lábios. Dirigiu-lhe a palavra e a voz da puta, na resposta, trazia um leve sabor a álcool. Tanto melhor. Acordaram o preço. 30 euros por um bico não parecia muito. Tudo dependeria da qualidade do serviço. Já pagara mais por bicos insossos e menos por bicos inesquecíveis. Tinha uma hora para decidir se valera a pena.
Dirigiam-se para o hotel quando a puta sugeriu, na sua voz grave, que o fizessem ali mesmo, pois que a iluminação falhava em todos os postes menos um pelo que a escuridão era total. Gabriel, noutra altura, não teria acatado de modo pacífico a ideia, mas assim poupava o dinheiro que gastaria no hotel e, se o bico fosse bom, talvez acabasse por poder dar mais algum à rapariga. Empurrou-a contra a parede e encetou essa actividade que qualquer homem gosta que é acariciar as mamas de uma mulher com as mãos enquanto a via olhar um relógio luminoso por uns segundos.
"Tens umas boas mamas", disse. Ela agradeceu. Continuou as carícias, com movimentos firmes mas cuidadosos. A puta pensava na sorte que tivera em arranjar um tipo como este. "Mesmo muito boas", reforçou, e na sua voz denotava-se espanto juvenil. "Lá caras foram", declamou a puta num estranho esgar de ironia, mas Gabriel preferia que ela não falasse, o seu tom de voz não lhe agradava.
A puta colocou os braços nos ombros do homem e trocaram de posição. Ela baixou-se e colocou a mão dentro das calças de Gabriel para que ele sentisse na sua pissa erecta e fervilheira aqueles dedos esguios e gelados. Brincou com eles durante uns segundos, voltou a retirar a mão e baixou as calças e a roupa interior do homem. Soltou a língua do céu da boca e projectou-a contra a glande descoberta de Gabriel, alternando depois entre o afundar a pissa na sua boca até à garganta e o brincar com a língua à volta da glande que não via.
Gabriel pensava "mas que belo bico, sim senhor", e o pensamento repetia, "que belo bico". Percebeu que não podia ficar-se por ali com uma puta como aquela, com aquela categoria. Disse-lhe "agora levanta-te, querida" e ela, após mais umas poucas passagens da língua pelo caralho, levantou-se. "E se eu te fodesse essa ratinha, agora? Que me dizes?". Estava embriagado de desejo, embriagado de uma enorme vontade de foder aquela mulher. Durante meio minuto houve silêncio, a puta não respondia. O pedido do homem deixou-a confusa. Por fim, percebeu que era uma brincadeira e acedeu com um sorriso.
Gabriel virou-a de costas, levantou-lhe a saia curta e pegou nas cuecas pelas suas extremidades laterais, empurrando-as para o chão. Dirigiu a sua língua para o olho do cu da putinha e a mão para a sua racha, mas não havia racha. Gabriel sentiu os seus tornozelos tremerem e a garganta colar-se. Aquela puta não era puta nenhuma porque tinha um caralho. Afastou-se como uma dama se afasta da ratazana suja que encontrou contra todas as expectativas na sua grande e bela mansão e embateu no chão de pedra, já no outro lado da estreita rua. "Tu és um gajo", gritou. A puta não entendia o alarido e considerou aquela reacção desmesurada. "Não propriamente". "Não propriamente?", perguntou Gabriel, aos gritos, "normalmente as putas não têm caralhos". "Mas nesta rua as putas têm todas caralhos, se vieste aqui é porque o sabias". Mas Gabriel não sabia, tinha ido àquela rua porque era a que estava mais perto do bar onde os seus amigos o tinham levado depois do trabalho, tendo-lhe dito, antes de dispersarem, para seguir naquela direcção, que encontraria de certeza boas putas.
Seguiu-se um longo silêncio que acabou por ser quebrado pela puta. "Não penses que vais sair daqui sem me dar o dinheiro que deves". Gabriel indignou-se. Procurou a puta na escuridão e, quando a sentiu, arremessou o seu corpo de encontro ao dela distribuindo murros e pontapés. Havia de matá-la. Ou "matá-lo", como corrigia na sua mente após ter pensado nele como uma puta em vez de um homem, ou lá o que ele era. A puta não o esperava. De há dois anos para cá nunca mais tinham aparecido gajos como este; todos sabiam bem o que poderiam ali encontrar. Não sabia bem como reagir e, tal como qualquer um que não sabe como reagir e se vê numa situação limite, cedeu ao primeiro impulso, que foi pouco surpreendentemente corresponder à pancada. A puta, Mauro António de seu nome, tinha menos onze anos que Gabriel e contava com um porte, embora magro, mais atlético que o do homem que a agredia. Ainda envolvidos na completa escuridão, conseguiu encontrar a face de Gabriel e cravar-lhe dois murros fortes, depois dos quais a fúria dele pareceu amainar. Não que tivesse, de facto, diminuído, mas Gabriel ficou consideravelmente atordoado, pelo que passou a concentrar-se mais na sua dor que na necessidade de descarga de energia. Apercebendo-se do seu domínio da situação, a puta deu um pontapé na perna de Gabriel que o obrigou a dobrar-se no chão e pontapeou-o e esmurrou-o de forma desvairada até Gabriel acabar por perder os sentidos. Mauro António estava francamente indignado com o que lhe sucedera. Nunca até então tinha sido vítima de uma tal violência. Procurou a carteira de Gabriel nos bolsos das suas calças sanguinolentas e retirou-lhe o dinheiro que continha. Depois voltou a colocar a carteira no bolso do seu agressor e tirou o telemóvel, depositando-o então na sua pequena bolsa. Como Gabriel tinha recebido o seu ordenado nesse dia e não tinha ainda ido a casa transportava o dinheiro consigo. Mauro António ficou radiante com a sorte que tinha advindo do azar primeiro. Possuía enfim dinheiro para sair daquela cidadezinha reles e lançar-se na grande metrópole onde decerto nunca seria vítima deste tipo de crueldade. Dirigiu-se para casa, tomou um longo banho e curou as feridas que manchavam o seu corpo, depois vestiu uma camisa de dormir e debruçou-se sobre a mesa de madeira carcomida da sala da avó onde, munida do seu caderno negro e de uma esferográfica barata, começou por traçar um minucioso plano para a sua nova vida.
[texto repescado daqui, porque sou um preguiçoso do caralho]

2 comentários:

Rrose disse...

nem esperava outra coisa!

Anónimo disse...

Mauro António, grande nome sim senhor...