um blog de rrose e luís

30.6.08

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- Já te disse que não - repetiu - que estou com muitas dores.
Mas Manuel insistia. Queria, à força, entrar nela. Tinha o caralho teso e Madalena sabia o que significava o caralho teso do seu homem. Era necessidade - muito mais que simples vontade - de mandar uma boa foda.
- Mas hoje não - repetiu ela após Manuel relembrar a sua necessidade suprema e de como até a sua sanidade poderia depender da concretização do seu desejo.
- Vá lá - repetiu o marido.
- Não e não.
- Mas, afinal, que dores são essas? Quero saber.
Então, as faces de Madalena ruborizaram-se. Teria que inventar em segundos um alibi que a ajudasse a disfarçar a sua falta de vontade de voltar a ser fodida pelo marido. Concluiu, nesses momentos, que tinha que arranjar um plano para se ver livre dele, do seu suor sujo e do seu ressonar tenebroso - «se todas as protagonistas do Almodóvar matam os maridos e safam-se», pensou, «também eu o conseguirei».

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Imagens de Ai no corrida (O Império dos Sentidos), filme cujos 10 primeiros minutos contam a história de um homem e uma mulher que, irresistivelmente atraídos pelo outro, contraem matrimónio. O resto do tempo de filme resumir-se-ia em cenas de foda e jogos sexuais cada vez mais perigosos e doentios que culminam no final chocante pelo qual o filme é ainda hoje conhecido (e também pela cena em que o homem enfia um ovo pela cona da mulher, que depois é obrigada a "pôr o ovo" para se ver livre dele; e pela cena da punição do rapazinho, de contornos altamente pedófilos; e por ter sido dos primeiros filmes mainstream a conter imagens de um caralho erecto e de masturbação com objectos de design atraente). Mas não nos enganemos: o filme é mesmo uma merda, e só resulta bem desta forma, com imagens daqui e dali tiradas, transformadas e servidas como arte barata e inconsequente, que é, grosso modo, o que eu acabei de fazer.

29.6.08

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Saudek


"A primeira lei que a natureza me impõe é gozar à custa seja de quem for." Marquês de Sade

28.6.08

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26.6.08

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Bruce Nauman
.....
Enquanto se fodiam,
imersos na escuridão,
sentiam os corpos
como linhas coloridas
perfeitamente
desenhadas no negro
[tanto que
até o escrevi assim
pretensamente lírico
pretensamente poético.
É que era mesmo
mas mesmo
uma cena
muito bonita]

25.6.08

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Mapplethorpe


Uma presença obrigatória neste blog tão mimoso.

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Robert Mapplethorpe, Self portrait 1978

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O que é o anus adentro? Não sei. Não sabemos. Entramos pelo anus adentro sem saber o que esperar; está muito escuro, anus adentro. Já entrei há 27 palavras, três pontos finais, duas vírgulas, um ponto e vírgula e um ponto de interrogação e continua escuro, sem fazer a ideia concreta das palavras, das imagens ou da pontuação que virei a encontrar aqui, caso prossiga. Tenho, no entanto, ideia - e posso estar enganado - que daqui brotará um daqueles sítios que alguns loucos lêem mas jamais adicionam ao blogroll do seu blog. Anus adentro dificilmente será um blog que ficará bem num blogroll de um qualquer blog. Anus adentro será talvez o que todos esperamos encontrar quando decidimos partir, enfim, anus adentro: merda, vísceras e um prazer muito secreto, um prazer javardo e sujo que muito dificilmente admitimos ser nosso, dos que quando passam por nós na rua e o amigo que segue conosco nos vê olhá-lo dizemos, desdenhosos, "eh, não curto népias desse prazer". Mas curtimos, bués. E já vão mais umas quantas palavras, mais uns quantos pontos finais, vírgulas, travessões e aspas; continuo numa escuridão total e fedorenta. Torno-me estático por momentos; há que decidir se parar ou prossiguir. E prossigo. Prosseguimos, aliás. Todos juntos, que é mais fácil e aprazível.