um blog de rrose e luís

15.7.08

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Querida Ritinha,


Hoje cuando passei por ti no corredor senti em ti o cheirinho da casa de banho das meninas e depois senti uma coisa esquisita a precorrer o meu corpo; no recreio sentei-me num camtinho a tentar perçeber o que se tinha passado mas não consegui perceber porque o João chegou ao pé de mim e preguntou-me se eu não queria ir apanhar minhocas na terra e eu não pude deixar de dizer sim porque tu bem sabes, Ritinha minha paixão, que eu adoro prescurtar a terra e penetrar as pequenas minhocas com o meu garfinho de plástico. Depois, enquanto penetrava as minhocas com o meu garfinho de plástico, subitamente aprecebi-me da verdade por detrás deste torbilhão de sentimentos relativos à tua peçoa. Aquelas minhocas eram eu e o meu garfinho de plástico, na sua brancura imaculada, eras tu. Olhei para trás e vi a tua figura no fundo do recreio a brincar numa rodinha com as outras raparigas. Soube de imediato que era esse o momento. Levantei-me e segui rumo a ti, enfeitissado. Toquei-te na mão e levei-te para longe das tuas amigas então perdidas em risinhos e segredinhos. Tu ignoraste-as porque sempre foste a mais madura, a mais bela, a mais cheirosa, e foste comigo para trás dos arbustos. Disse-te tudo o que voltei a repetir agora, nesta carta, e pedi-te, no final, para que fosses minha namorada. Mas tu recusaste. Então, pedi-te para simplesmente acariciares a minha pilinha com a tua língua. E tu recusaste. E, então, pedi-te para simplesmente envolveres a minha pilinha com a tua mão pequenina e suada. E tu recusaste. E então pedi-te que me visses, que me visses simplesmente, e comecei a despir as minhas roupas sujas de terra. Mas tu fugiste. E eu fui dizer à dona Cultilde para telefonar à minha mãe porque me sentia doente e tinha que ir para casa. E agora estou em casa e daqui, de onde escrevo, vejo a janela aberta a uns quatro ou cinco metros de mim. Daqui a menos de um minuto voarei para além dela. Sempre quis fazêlo mas nunca tinha tido coragem. Espero que esta carta chegue realmente a ti e que te assombre muito para além dos teus atuais 10 anos. Que para todo o resto da tua vida vejas em cada espelho o meu corpo nu que nunca chegaste a querer ver.


Acácio C.


fotografia: david heath

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